Peixe de Aquário

31 outubro 2006

Feriadão? Satyrianas, claro!

As Satyrianas, saudação à primavera, é o assunto desse feriadão em São Paulo. No melhor exemplo de arte como ruptura do cotidiano, os Satyros, grupo de teatro que quase alcançam a maioridade com seus 17 aninhos, promovem 78 horas ininterruptas de arte. Ou seja, se vc não tiver o que fazer, não importa quando, dá um pulinho na Pça. Roosevelt!

Não irei listar tudo o que há por lá, pois são milhões de pessoas interessantes, leituras, performances, peças. Prometo postar fotos e poemas para nossos queridos que por hora não estarão por aqui, como o Ponce do Rio ou o Delmo de Recife. No blog do Ivam Cabral e no site dos Satyros constam mais detalhes.


Destaco o Café Literário e a Poesia ao Entardecer que yo organizei como “curadora” – os nomes prometem! programa aqui

EM TEMPO 1: A Editora Amauta lançará hoje livro do Augusto de Campos na Casa das Rosas. Quem não puder ir, poderá encomendar pelo site aqui. COLIDOUESCAPO é livro-poema, cheio de palavras-valises que sintetizam a proposta da obra: as páginas soltas podem ser combinadas e recombinadas, formando ora palavras conhecidas, ora novas palavras imprevistas. Essa é uma edição corajosa: o Augusto tinha publicado como edição de autor 35 anos atrás...

EM TEMPO 2: Hoje também (terça) às 20h temos palestra e lançamentos sobre Walter Benjamin no Goethe. Haverá mesa-redonda com Olgária Matos (USP), Irene Aron (USP), Günter Pressler (UFPA), Heloísa Starling (UFMG), Willi Bolle (USP) e Márcio Seligmann-Silva (Unicamp, moderação).

29 outubro 2006

Eloisa Cartonera na Bienal

Para quem ainda não deu um pulo por lá, a Eloisa Cartonera está com stand na 27ª Bienal – na foto o Cristian de Nápoli e a Ramona Leiva. Lá é possível adquirir livros bilíngües de prosa e poesia de muita qualidade – comprei para dar de presente um do Glauco Mattoso, edição português-español, com poemas do Jornal Dobrabil (fanzine da década de 70 que ironizava o “jornal do brasil”) – coisa fina. Li na UOL que também há Ricardo Piglia (Argentina) Gonzalo Millán (Chile) e Luis Chaves (Costa Rica).
Os livros são muito bonitos – são feitos de papelão e pintados à mão. Sobre o projeto social em si, pode-se ler mais nos links abaixo:

O que mais gostei do stand foi a oncinha pintada da nota de R$ 5,00 e os dois relógios com ares de hotel internacional marcando a hora do mesmo fuso: Buenos Aires y São Paulo. Tudo em papelão, claro.

27 outubro 2006

Série: Vôo - Dani Ramos

(foto: Diego Carrera)
Hoje temos poemas da Daniela Oswald Ramos por aqui, conforme o prometido. São lindos (eu acho), assim como a Dani.

De manhã, rolou o bate-papo com o Marcelino na FFLCH-USP (Letras). Tivemos gatos pingados em maior número: dessa vez estávamos em 25! Chegaremos aos 30 no final de novembro! Creio que a Universidade tem jeito, hahá. Ainda nenhum professor apareceu por lá, além do próprio Vicente, mas quem sabe? Esperanças eu tenho de monte. O melhor é que sempre nascem diálogos daí: já conheci o blog da Ellen hoje por isso. O Marcelino leu tão bonito. Quem tiver vontade e tiver na área, ele estará com a Virna a convite do Claudio Daniel na Biblioteca Alceu Amoroso Lima ainda à noite, 20h.

E hoje tem Show dos X-Ponjas! A volta dos inquietos. Os caras são 10. Aí vai: Rock-Pop-Soul - rua ipê, n° 108 - vila clementino - R$ 10,00, 21h!
-----------------------------------------



Vôo 1937

No banco de trás
provas de química
orgânica como a lua
cheia na janela, passageira 15A.

O plano piloto ficou no destino de origem.
Toda palavra sentida, suspensão.

De repente entendo várias, como
queria me parecer com ele,
mas no entanto era diverso, versado em saídas e partidas. É diferente de escrever em táxis. Se vê a paisagem.



Aqui, hoje:

sobreviventes
nenhum
ninguém ganhou sobrevida.
começa um poema com boas rimas e uma impressão de que se pode tocá-lo.
depois descamba para um simbolismo: luas, nuvens na janela. isso tudo era em um avião. mas não se pode imaginar. nunca dá para imaginar tudo. não se pode devanear. não se pode.


Daniela Oswald Ramos escreve regularmente no Caderno V

26 outubro 2006

La Carta de Vodka, Esperma y Chocolate de Douglas Diegues

Buenos dias! Hoje tinha decidido em postar poemas da Dani Ramos (aguardem!) acá, mas outra questão se levanta e como é preciosa para mim, aí vamos nela.

Na Balada Literária, mesa sobre Poesia, debatemos sobre a questão do espaço (sim, "espaço!" e não "destaque"!) que os jornais dão para a poesia - aliás, a óbvia falta dele. Bem, talvez pela verve de advogada, logo me achei discordando veementemente de vários pontos levantados pelo Douglas Diegues. O melhor... é que a discusão não acabou por lá!! Recebi alguns e-mails sobre o tema e agora... el Douglas-ele-mesmo escreveu-me una CARTA DI VODKA ESPERMA Y CHOCOLATE PARA ANA RÜSCHE!

Abaixo vai o início - por favor, leiam na íntegra (aqui), pois vários pontos são importantíssimos. Como boa degustadora do modo dialético de ser, acho que quase tudo que o Douglas falou é exato, apesar de haver outros aspectos que merecem lá una atención especial - meditarei um pouco e escreverei a minha. E aí vai o puxão de orelha (tá mais para chute em algum lugar sensível) para os editores castradores dos grandes jornais!

Douglas, obrigada por la vodka, esperma y chocolate - e muito cariño.

Acabo di ler nu blog da minha amiga e poeta Ana Rüsche (peixe de aquário) que durante a Balada Literária “o Douglas Diegues com su verve característica insistiu em criticar nossos jornais que dão pouco destaque para poesia hoje”. Sinceramente, Ana, jamais yo diria isso que você diz que eu disse. Nem bêbado. Quem precisa de destaque são as pessoas que pagam pra aparecer na “Caras”. A poesia não precisa, nunca precisou, nunca vai precisar de destaque. Nunca uso a palavra “destaque”. Detesto essa palavra. Acho uma palavra feia. Comercial. Arrogante. Idiota. Uma palavra que vende. Uma palavra a serviço do poder econômico. Também nunca usei nem uso palavras como “galera”, “véio”, “bombando”. Também achei estranho você dizer “nossos” jornais. Nossos jornais? Avanti. Prefiro ser sincero com você. Salbajemente sincero. Y te escrever una carta llena de sangre vodka y esperma. Quem sabe con mucha vodka esperma y chocolate yo consiga decir agora lo que provavelmente non consegui dizer direito, ou o que quase ninguém conseguiu ou não quis entender direito durante nosso papo en la hermosa e inolbidable Balada Literária organizada pelo grande Marcelino Freire.
continue lendo...


EM TEMPO:
Amanhã, sexta, às 10h, estarei com o Marcelino Freire na FFLCH-USP para conversarmos sobre nosso Prêmio Jabuti e outras estórias. Uma iniciativa do CAEL em conjunto com o Prof. Antonio Vicente Pietroforte, chama-se "O
Escritor nas Letras" e já trouxe, dentre outros, o Glauco Mattoso e Joca Terron. Sala 160, Cidade Universitária, Prédio da Letras.

24 outubro 2006

Letras nas Satyrianas

Falo disso: aniversário da traveca/prostituta mais linda da Roosevelt. Quem fez o bolo-surpresa?

A mesma senhora católica até a medula com quem ela divide o elevador. Desceu toda prosa com o bolo de chocolate nas mãos. Festa na Roosevelt. Aqui é assim. Quem é melhor do que quem na Roosevelt? Diga você. Escolha se for capaz. Aqui é um lugar onde pessoas de credo, extrato bancário, biblioteca e manequim totalmente diferentes convivem sem fugir.


Trecho que retirei do Desconcertos, do Claudinei Vieira, sobre o livro dos Brothers Cactus, "Contistas da Pça. Roosevelt".

Pois é isso mesmo - aquele lugar tem toda uma atmosfera própria. E é melhor falarmos baixinho, pq vai que o Bush resolve intervir para instaurar uns valores democráticos por lá. Nos dias 2 a 5 de novembro haverá as Satyrianas, o evento de não-sei-quantas horas ininterruptas de arte. Como "curadora" do Café Literário e do Poesia ao Entardecer, cujo tema é "Eu e o Outro", convidei pessoas afins para participarem, uns corajosos:

Programação (a confirmar)

Café Literário - 10h

Dia 3.11 - sexta-feira
Antonio Vicente PietroforteDel Candeias
Fabio Aristimunho

Dia 4.11 - sábado
Paulo Ferraz

Heitor Ferraz
Lilian Aquino

Dia 5.11 - domingo
Ivana Arruda Leite
Victor del Franco
Andréa Del Fuego
Poesia ao Entardecer - 17h

Dia 3.11 - sexta-feira
Homenageado: Marcelo Montenegro
Ademir Assunção
Eduardo Lacerda

Dia 4.11 - sábado
Homenageado: Sérgio Mello
Claudinei Vieira
Dona Faleiros
..
Dia 5.11 - domingo

Cristian de Nápoli (poeta argentino)
Dirceu Villa
Virna Teixeira

De Olhos bem Fechados


Olha que a Balada continua rendendo frutos e fofocas, que bueno (+ aqui no Fóton). Bem, hoje assisti uma aula daquelas aulas animais e vim escrever um pouquinho sobre isso. Não gosto de cinema, mas o Marcos, o tal professor, me ensinou a ver coisas que eu não enxergava antes e passei criar gosto por assistir filmes. Hoje ele comentou sobre “De Olhos Bem Fechados”, do Kubrick (mais um em que o pobrezinho do Tom Cruise faz um cara bobinho – fico pensando se não é mais que mera encenação...). Algumas coisas que anotei:


Muito além do que a crítica de guia de jornal fala, que seria um filme sobre um casal em crise e blablablá, há uma grande experiência do onírico no filme, que chega a contorcer o cenário, as personagens, iluminação. É exatamente na afirmação que tudo foi um sonho visto por um sujeito que gostaria de conhecer esse outro mundo do poder que mora a graça do filme – se procurar “lógica” entre os acontecimentos, não irá encontrar. Ah, sério que é sonho?

Outra coisa legal são as rimas visuais: por exemplo, na casa de fantasias, retoma-se o mesmo tema e disposição de objetos da cena do baile inicial, como se as mulheres se tornassem bonequinhos à venda – essa repetição mostra a continuação do tema da prostituição, da transformação da pessoa em objeto à venda. E nosso personagem masculino é tão preocupado com isso que toda a hora fala “sou um médico”, “sou um médico”, pois quer afirmar sua classe social média de bosta e dá gorjetas e dinheiro a todos. Mesmo na festa do começo, quando acha que está abafando, só conhece o pianista, tem que atender um “plantão” e é esnobado pelos verdadeiramente poderosos do pedaço. Conhece um cara assim?

Por fim, o casal em crise do guia de cinema acaba com “esse pesadelo” em plenas compras de Natal. Let’s fuck. E viveram felizes para sempre.

22 outubro 2006

Sobre A Balada Literária

Não sei por onde começar para contar sobre a jornada da Balada Literária de ontem... talvez pelo fato que a noitada acabou cedo de tanto que o evento exige desses escritores, hehe.
..
Nossa mesa foi bem agitada: o Douglas Diegues com su verve característica insistiu em criticar nossos jornais que dão pouco destaque para poesia hoje – não vou reproduzir tudo, quem viu, viu, o Ademir segurou bem as pontas como mediador, o Nicolas falou de Brasília e Brazília, o Paulo Scott pontuou nas quinas de mesa. Respondi como pude tudo. As leituras foram boas e engraçadas: quem nunca ouviu Douglas Diegues lendo, precisa ir ver, com su portuñol selvagem.
..
A mesa sobre poesia argentina com o Joca, Marcelo Barbão, Cristian de Nápoli (que tá falando português melhor que eu) e Juana Bignozzi foi animal. Juana é uma grande dama da poesia argentina, Joca comparou-a com Ferreira Gullar, e arrepiei de ouvir suas opiniões muito firmes: com ela não tem essa que o muro caiu e agora o mundo é um só. Ela foi militante comunista e participou do movimento El Pan Duro ("o pão amanhecido"), o qual por mais que não tivesse unidade estética, possuía unidade ideológica forte. Gostei muito que comentou sobre a questão da poesia confessional de hoje, pois é um tipo de experiência individual a qual não nos traz nada de especial e que de certa maneira devemos superar isso. O Cristian falou sobre a influência do inglês na poesia, condenou a citação de versos inteiros em inglês em um poema, que isso seria uma atitude provinciana - o que arrancou risadas da platéia (pergunta que não quer calar: e Depeche Mode, pode?, hahá). Também comentou sobre a vida de Buenos Aires com a afluência de imigrantes paraguaios, peruanos, coreanos, e a decadência do ensino público. Foi muito bom mesmo. Em resumo: demoliremos o Muro de Tordesilhas que nos separa de nossos irmãos.
..
Na Praça Roosevelt estavam milhões de pessoas e os Parlapatões ferveram bem. As leituras não foram possíveis (até a hora em que fiquei) por conta da algazarra generalizada. Hum, digo que adorei ter conhecido vários visitantes, como a Cidinha da Silva, o Bruno Brum, o Marcelo Sahea, a Josiane Bosqueiro – lerei todos com o devido carinho – além, claro, de te reencontrado o povo carioca da Bagatelasch que são sempre ótimos, e ter conhecido pessoalmente o Galera, com a confirmação que mora em São Paulo. E ver os velhos amigos de todas as noites também é bom, claro.
..
A boa nova é que tramando com o Paulo Scott, acho que o nosso tão sonhado encontro latino-americano vai rolar em maio do ano que vem, no Sul, aguardem.
..
Um poema da leitura do Nicolas Behr:

brasília nasceu
de um gesto primário
dois eixos se cruzando,
ou seja, o
próprio sinal da cruz

como quem pede benção
ou perdão

A Balada Literária: algumas fotos

Bem, para variar estou com dificuldade em postar fotos aqui. Vejam todas, com direito a cariocaisch, mineiros, sulistas e os chapadões do planalto, dentre outros: aqui
Destaques para a nossa mesa com Ademir Assunção, Paulo Scott, Douglas Diegues e Nicolas Behr (a foto da "parte de lá da mesa" não consegui colocar aqui), para a discussão de poesia argentina, para a Dani com seu olhar enigmático, papo com a Mirtes - dama da noite, para o olhar desconfiado de Paulo Ferraz para a câmera, Virna com suas plataformas ousadas, para nossas prosadoras lindas, para o Fabio Aristimundo (o Medianeiro, paparazzi incansável) e claro... para o Marcelino que arrasou organizando o troço todo!








20 outubro 2006

O Edu Lacerda falou outro dia que se tivesse um blog, ele publicaria conforme o seu humor, uma coisa meio diário. De pronto o Victor del Franco e eu protocolamos aquele “não, nossa proposta é outra e bláblá”. Não é que ando mesmo meio confessional?

Enfim, pensei bastante sobre o primeiro dia da BALADA de ontem. Foi ótimo. Estava todo mundo lá. Inclusive muita gente que não foi estava por lá. Ao menos as pessoas se esbarram, se cruzam, se cheiram um pouco, mesmo que não haja diálogos realmente, ao menos há uma mesa e há copos e há bastante coisa para se dar risada. Li hoje também o que o Marcelino escreveu sobre o rodar, o fazer, o agitar – ele tem razão sobre o lance de tirar a literatura da estante e o importante também é não a colocar sob holofotes ou em cartaz como um cardápio de restaurante fast-food - às vezes é difícil não reproduzirmos o padrãozão.

E vi no blog do Ivam que Os Satyros irão abrir filial no Jardim Pantanal, ZL, muito bom, se oxigenarem a vizinhança como fizeram com a Pça. Roosevelt... eu fazia fórum por lá quando era estagiária e era outro planeta, acho que era quase tipo o solo lunar só que cinza-ratazana. Também isso faz um tempo. Quero assistir logo a nova peça deles da Dea Loher – ela é animal. Creio que é ressaca que me deixa meio assim confessional.


[em tempo] amanhã estarei lá na mesa com o Ademir, Behr, Douglas Diegues e Paulo Scott, 14:30h, livraria da Vila - e para as outras todas, claro!

19 outubro 2006

A Biblioteca Submergida

Em coro com muitos outros blogs: Hoje começa a BALADA LITERÁRIA! clique aqui

Ontem à noite acabei de ler A Biblioteca Submergida de Flávio Viegas Amoreira - um longo poema publicado em uma capa verde linda (cartão papirus 280 g/m2 da 7Letras para os fetichistas de plantão).

É interessante que o poema longo volta a ganhar adeptos, vide o no prelo De Novo Nada, do Paulo Ferraz, com aproximadamente 600 versos (ótimo). Fiquei pensando que é talvez uma forma de resistência e de reinserção do lírico após tantas reviravoltas estéticas - afinal, a construção e leitura de um poema longo exigem diálogos com outras tradições e uma dedicação de leitor e escritor muito além do poema curto, poema pílula, poema rápido que se insere entre um cafezinho e outro. O poema longo exige um tempo que nossos tempos andam cortando de nós.


No caso do Flávio, ele retoma mitos gregos, mas misturados a produtos da indústria cultural, termos judaicos, russos, alemão, literatura brasileira em releituras, "torre de marfim aparente, setting". Esse aparente caos possui, entretanto, uma organização e objetivo bem definidos: uma grande reflexão sobre a própria poesia e o esfacelamento de relações mais estabelecidas para precisarmos o que seja o "lírico" hoje.

Mas para os leitores entre um cafezinho e outro, selecionei 4 versos. Agradeço ao Flávio o texto.

silencia: caixas de alma
pandoras, estantes peitoris de janelas


poesia exige pausa medida
perigo do excesso desperdiça
.

18 outubro 2006

Homens do buraco branco

hoje estou meio cansada, dor de cabeça, fumaça com cheiro de pão na chapa, café não adiantou, não hoje. posto então para vcs um trecho do Juliano Pessanha, que deveria ser um soco no estômago, mas tem gente que ainda lê como se fosse com outras pessoas, enfim, o texto inteiro é sobre uma topologia e está disponível no Cronópios. (clique aqui)
..

Foto do Diego Carrera, “Espetáculo.


"Homens do buraco branco são os cidadãos da legalidade metafísica, os habitantes da representação e da palavra anticorpo. O segredo desses homens consiste em que vestiram o uniforme da identidade mundana e acabaram por se confundir com ele. Esse uniforme, enquanto camisinha gigante, blinda o corpo contra a visita apofática do buraco negro e contra a visita epifânica da criança na corredeira, criança em estado de milagre. O homem uniformizado é um assustado, pois o abrigo na forma da determinação identitária está sempre ameaçado pela latência dos chacais. Como ensiná-los a amar os chacais que estão à espreita?"


17 outubro 2006

Rompendo o Silêncio com Paulo Ferraz

Hoje! Casa das Rosas, 20h.
O projeto idealizado pelo Prof. Antonio Vicente Pietroforte (Grupo SADI-USP) e por Frederico Barbosa promovem entrevistas públicas entre pesquisadores e poetas contemporâneos para romper esses silêncios entre universidade e a produção literária atual.
Quem não puder comparecer, leia o Paulo aqui.

16 outubro 2006

Revenant

(Sobre a Balada Literária, troquei alguns e-mails com a Angélica do que irei falar, pois entrei na programação para substituir a chica que não volta desses rincões de América do Sul em suas andanças - acho que o slogan é "O Brasil fica na América do Sul" ou algo do gênero, contribuições mais que bem-vindas).
Achei o poema abaixo nos guardados de mudanças de escritório. Daqueles feitos a partir de notícias de jornal e de poemas do Dirceu Villa:



Revenant

minha mãe foi morta num século de entranhas.
quando os pássaros escuros
emprestaram da terra o aço para suas asas

e as filhas que criou para a terra
foram em mini-saias cheias de batom e dentes
para os soldados para os empresários

e seus homens que amou sobre o barro
foram em busca de mulheres de revista e gravatas
sumiram com as bombas com as fábricas

mas agora nossa mãe volta,

com a pestilência de um cão amordaçado,
para degelar e beber todas as neves eternas
para assassinar todos os homens e galinhas da China.
......
.....

11 outubro 2006

SUPERCOISA 00, Balada Literária e Satyrianas

São Paulo está agitada. Isso ela é, mas nos últimos tempos a literatura anda saindo um pouco de casa (provavelmente indo ao bar). O que rola?

SUPERCOISA!!!
O SUPERblog da SUPERCOISA 00, evento que será realizado dia 26.11 na Casa das Rosas, com uma galera consideravel, escritores novos e tal. Se quiser se aliciar-alistar, só dar um alô. O conceito do evento é que iremos ocupar os diversos cômodos da Casa com... coisas!

Pedaço do primeiro post:
"Bem, essa é a Supercoisa – ou só uma pontinha do iceberg dela. Como toda coisa que se preze, por mais que se veja uma totalidade, lá tem seus meandros e particularidades. (...)
Um dos motivos de colocarmos isso no ar é tentarmos rascunhar algumas idéias, seja lá como elas se estruturem formalmente, sobre a “geração 00” como lhe apelidaria a Heloísa Buarque de Holanda, ou então “a nova literatura” para alguns articulistas de jornal, enfim, uns gatos pingados da geração zerada - precisamos do resto para virar matilha".

Balada Literária - 19 a 22.10
O doido do Marcelino que não pára (graças-a-deus!) organizou um dos eventos será um dos mais engraçados do ano: a Balada Literária! Com diversas mesas com escritores, professores e cia e propostas de baladinhas, a idéia é discutir o hoje, o que se escreve e tomar cerveja, claro! Irei participar da mesa n° 5 com o Ademir Assunção, o Nicolas Behr e o Paulo Scott. It's a pleasure! Veja programação aqui

Satyrianas
Para virar a noite e os dias com tudo, com todos, no reduto - Pça. Roosevelt.

De 2 a 5 de novembro, não-sei-quantas-horas ininterruptas de arte. Estarei na curadoria do Café Literário (1oh) e Poesia ao Entardecer (18h), cujos temas serão "eu e o outro". Aguardem!

10 outubro 2006

Vizinhos

ZERO: hoje tem lançamento do Oitavas, Selo Demônio Negro, Casa das Rosas, a partir das 20h. Matéria da Elisa Buzzo aqui.

VIZINHOS 1: Hoje vim falar do blog da Angélica Freitas e do maravilhoso - até no sentido técnico da palavra: a narração de sua viagem pela América Latina e sobre poetas que encontra pelo caminho, com ironias e gracinhas com bom sotaque portuñoesco, tecem um retrato bem peculiar de nossos vizinhos. Serão verdades ou meros sonhos de Angie - Importa?

Bem, o que me importa exatamente é essa relação tão necessária com os companheiros de continente que por ditadutas e rivalidades cretinas (além de um certo mito que as línguas são tão diferentes) acabam por distanciar nossas produções e diálogos. E querem saber? A pegada agora vai virar por esse lado.

VIZINHOS 2: artigo ótimo sobre Luandino Vieira escrito pala Vima Lia Martins na Zunái. Luandino é o escritor de Angola que não aceitou os 100 mil euros do Prêmio Camões "por motivos pessoais" - no caso, o cara sempre lutou pela independência de Angola contra Portugual, deve lá ter seus motivos mesmo.

Trecho: "A elaboração literária de Luuanda deixa entrever uma perspectiva utópica da realidade. Concebida num momento histórico revolucionário, a obra sinaliza a consolidação paulatina do processo de resistência popular que se opõe ao poder colonial, sugerindo caminhos para a transformação efetiva da sociedade angolana".

VIZINHOS 3: Está muito boa a programação da Balada Literária que irá rolar de 19 a 22 de outubro da Livraria da Vila à Pça. Roosevelt (aliás, entrem no site profissa do Sebo do Bactéria). Mais pra frente posto detalhes.

Foto: Diego Carrera veja outras aqui

09 outubro 2006

Oitavas - Depoimento da Elisa

Pedi para a Elisa escrever alguma coisinha sobre o lançamento de amanhã e ela me mandou o seguinte depoimento, não é uma graça?:

Oitavas
mimo-retrô
PRIMAPOESIA
primeira poesia primitiva
- primordial amiga -
mais um recomeço


Oitavas - Lançamento dia 10 de outubro, Casa das Rosas, 20h. Ed. Amauta, Selo Demônio Negro, editor Vandeley Mendonça. Participam: Ana Rüsche, Cristian de Nápoli, Elisa Andrade Buzzo, Luiz Roberto Guedes, Paulo Ferraz, Pepe Valdez, Sergio González Valenzuela, Victor Del Franco.

08 outubro 2006

Humor Negro em Talidomida

Nesse mundo politicamente correto fica até arriscado escrever poemas assim como os do Joaquim Mariano. São fantásticos - passem pelo Talidomida para entreter esse domingão.
...
Polidactilia
...
Desde pequeno
era cheio de dedos
Joaquim Mariano, em Talidomida
...
...
Ps.: O melhor do sábado foi o Paulo F. chamando o blog de "Porco de Aquário", hahá.

06 outubro 2006

O Poema Branco

ilustração (e agradecimentos): DadaTida


O Poema Branco

e ela montada
no topo da bicicleta ergométrica
uma caixinha de música
laqueada como gelo
a rodar, a esperar
a agulha hipodérmica de endorfina
para capar seu coração.

um romance raso.
eu queria ser um esquimó
mas entre uma faísca e outra,
o frio da estroboscópica,
a solidão me dá picadas
uma cocaína negra com mel
que me anima.

minhas mortes são semanais.
em lençóis alugados por pernoite
no degelo de teus cabelos negros
de latin lover

e como você faz a tantas menininhas
teu dedos apalpam minha pequena morte úmida
e lhe aplica um grito seco na canção de rádio pela tarde
olhos pretos cheios de branco

mas agora é escuro
pela pia de mármore duro
ela derrama a borra de café
que se transforma em terra
que embala os natimortos de nossos sonhos

um romance raso.
e ela entediada roía unhas
na internet os esquimós
seus pés assustadoramente descalços.



Para o Vicente Pietroforte, a partir do A Fada do IML do Del Candeias.

05 outubro 2006

Sonoro e Visual: VIDEOVERSO

Sim, poetas contemporâneos são diversos, díspares, mas nem tão distantes uns dos outros assim como dizem. A Gabriela Marcondes me escreveu para divulgar o lançamento de seu livro, o VIDEOVERSO. O que também não é de espantar é seu diálogo com o concretismo e outras linguagens - o próprio convite era um vídeo. Como o blogspot limita minha criatividade, pedi a ela 2 poemas em suporte "tradicional". Vejam só o resultado. Eu gostei e espero ir lá sábado para conferir tudo. Quem quiser mais, o e-mail dela é do gmail, gabmarcondes00.

Papiro

No impenetrável palimpsesto
dorme o verso que procuro.
No revés do que vejo
a idéia que salta através do muro
oferece aos olhos um caleidoscópio.
No dédalo das entrelinhas
o sentido que ilumina o escuro.
Código desta grafia secreta
que perambula pela poesia bêbada
adormecida na inaptidão do poeta.

Sobremesa da eternidade

poetas são abutres
dos próprios desejos
mastigam com binóculos
os próprios medos


SERVIÇO: VIDEOVERSO (ed. 7letras) dia 07/10 na Casa das Rosas, 20h. Deverão rolar projeções de vídeos da autora e de um grupo de artistas sonorovisuais autodenominados O MURO. Foi feito com a "ajuda inestimável" da designer Roberta Range e tem apresentação de Frederico Barbosa.

Infantil: Lendas do Brasil

É engraçado, mas poesia infantil ainda é alguma coisa apagada por aí. O Fabio, o Paulo F e eu sempre pensamos em publicar um livro de poesia para crianças, daqueles bem ilustrados, até temos os textos (os meus rascunhos, inclusive são bem politicamente incorretos), mas o projeto nunca sai do papo de bar... se alguém por aí se animar...
Bem, mas o que passo para contar é que na Rato de Livraria será lançado sábado o Lendas do Brasil, em que se misturam essas preocupações - a festinha tem direito a refri e pipoca.


Lançamento na Rato de Livraria - Dia 7 de outubro, das 15h às 19h (saiba mais, clique aqui).
Blandina Franco, autora do texto, é leitora de histórias desde a mais tenra infância. Quando cresceu, passou não apenas a ler, como também escrever histórias. Este é o seu terceiro livro editado. Adora ler, escrever, costurar, bordar e fazer bonecos de seus personagens. Atualmente mora em São Paulo com seus dois filhos, um cachorro, 2.000 livros, 200 bonecos, e mais um monte de coisas importantes como lápis de cor, fitas coloridas, brinquedos, etc. Andréa Ebert, ilustradora, nasceu em São Paulo e mora em Natal - Rio Grande do Norte desde 1996. Para este livro Andréa ilustrou inspirada nos seus sonhos e fantasias, pintou sobre a madeira de forma que a imagem tivesse uma textura misteriosa e instigante! SERVIÇO: Autor: Blandina Franco Ilustrações: Andréa Ebert. Editora: Odysseus - ISBN: 8588023776 - Preço: R$ 19,80 - 36 páginas

02 outubro 2006

Lançamento de Oitavas e Paulo Ferraz

O post de hoje para o warm-up do lançamento de Oitavas, antologia de poesia, selo Demônio Negro, é sobre o Paulo Ferraz.

É difícil falar do Paulo, pq sinceramente não sei se escreveria poesia hoje sem ter topado com essa encruzilhada. Afinal, sempre fui prosadora até os 18 aninhos, até conhecer esse meu veterano de Faculdade de Direito, acompanhado do Luigi de Oliveira, da Luciana Rosa e do Fabio Aristimunho – criaturas fantásticas que me deram chacoalhões imprescindíveis.

Bem, sentimentalismos à parte, o Paulo é um poeta foda, publicou em quase todas as revistas literária e antologias relevantes, um final de anos 90 com começo de década 00. Lançou em 99 o Constatação do Óbvio e esse ano deve lançar os seus 2 novos: De novo nada e Evidências Pedestres. No “Oitavas” teremos esse briefing. Um dos poemas do Paulo que mais gosto vai abaixo.

Oitavas - Lançamento dia 10 de outubro, Casa das Rosas, 20h. Ed. Amauta, Selo Demônio Negro, editor Vandeley Mendonça. Participam: Ana Rüsche, Cristian de Nápoli, Elisa Andrade Buzzo, Luiz Roberto Guedes, Paulo Ferraz, Pepe Valdez, Sergio González Valenzuela, Victor Del Franco.
.....
Prescrição médica

As mocinhas da aula
de canto não tomam
gelado, não caem na
noite, não se expõem a
correntes de vento,
fumar nem lhes passa
pelas cabecinhas
e nunca ouvem Maysa.
...........
Ps.: Ah, interessante a matéria da Elisa Andrade Buzzo sobre o Outubro Literário.

Debate: Literatura no Séc. 21

Irei com certeza - os nomes são ótimos (exceto um, hehe): Manuel da Costa Pinto, Nelson de Oliveira, Marcelino Freire, Fabrício Carpinejar, Juliano Garcia Pessanha e Edson Cruz. Corredor Literário - FNAC, Paulista, 19h, amanhã, terça.

01 outubro 2006

Bloggeiros! Dica de Contador e Feed


(para quem já votou e tá desocupado por aí)

1) Contador: Sitemeter
Grátis, é possível receber via e-mail estatísticas semanais, quem lê, que horas lê, de onde seus visitantes vêm. Muito legal. Como: basta se cadastrar e depois instalar o contado em seu blog (opção no html). Para quem tem blogspot é automático, bem fácil mesmo - aliás, no rodapé do site consta o ícone, clica que vc vê o do Peixe (comecei agora).

2) Enviar postagens via RSS:
Feedblitz
Aprendi com o Altivo essa. Entre lá e cadastre teu blog que eles irão gerar um código html que vc cola em seu modelo no blog (esse “quero saber do Peixe!” ao lado). Aí todo mundo que se cadastrar, recebe tuas postagens.

3) TEATRO: Os Parlapatões abriram sede na Praça Roosevelt!!! Que animal!! O lugar tá meio limpinho demais para a média da vizinhança, mas adorei. As Satyrianas esse ano prometem! Fui assistir Nonada ontem, da Cia do Feijão, animal, quase chorei no final de tão boa a peça - tudo costurado, amarrado, proposta com encenação, fantástico - uma ótima leitura de Machado, Clarice e Mário de Andrade. Aí acabei por tomar cerveja na praça e descobri os Parlapatões...